PASSO 4: Ensaios

Os ensaios são o espaço no qual pode experimentar e jogar com várias ferramentas e linguagens para moldar a encenação digital.

Nem todos os ensaios têm os mesmos objetivos, uma vez que estes podem ser técnicos, criativos ou contar com a presença de uma audiência; podem também ser realizados separadamente ou no mesmo dia, consoante a disponibilidade do grupo.

Ensaios técnicos

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Ensaios técnicos

O processo de familiarização do elenco com a plataforma digital selecionada. Também é a oportunidade de adaptar o guião e a atuação à plataforma e testar todos os códigos e ferramentas, o que permitirá identificar recursos para as personagens e o conflito.

Ensaios criativos

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Ensaios criativos

Este é o processo de criar personagens, pesquisar linguagens e estéticas cénicas, bem como explorar diferentes ferramentas e métodos artísticos. Também é o momento ideal para testar a sucessão e o ritmo da peça, o que é fundamental num contexto digital, uma vez que pode reformular toda a experiência da audiência.

Ensaio com a audiência ou abertura do processo

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Ensaio com a audiência ou abertura do processo

É importante testar a recetividade da audiência, especialmente se esta se tratar da primeira experiência digital da mesma, de modo a poder realizar eventuais ajustes necessários (instruções claras, duração, etc.). Este passo também irá depender do papel da audiência. Para concluir este passo, podem ser utilizadas várias ferramentas, tais como: feedback direto, avaliações, formulários do Google, etc.

Computador ou telemóvel

Ferramenta de comunicação utilizada entre os/as profissionais envolvidos/as neste passo, bem como para a execução do processo criativo.

Acesso e ligação estável à Internet

(dados móveis suficientes ou ligação ao Wi-Fi)

Plataformas digitais

Recurso necessário para a encenação.

Diversas ferramentas de avaliação

Especialmente para os ensaios abertos, mas também para avaliar continuamente o processo com os e as participantes.

Neste passo, as competências a incluir são:

Autonomia e iniciativa:

Apesar de se tratar de uma atividade coletiva, estas competências pessoais também são necessárias durante os ensaios, uma vez que cada participante irá trabalhar na sua própria personagem.

Trabalho de equipa:

Indispensável para o desenvolvimento deste passo, uma vez que os ensaios são sempre processos coletivos de verificação e ajuste do guião, da peça e da encenação como um processo total.

Planeamento e organização:

Esta é a competência que, por um lado, facilita a gestão de tempo e o cumprimento de prazos, mas que também permite utilizar os recursos humanos e materiais de forma ótima e eficiente. É necessária para o desenvolvimento de cada ensaio.

Orientação para os resultados:

Esta competência refere-se à contribuição para o cumprimento dos objetivos esperados, desenvolvendo atividades especificas para as atingir. Está particularmente orientada para o detalhe, garantindo, assim, que os processos são devidamente desenvolvidos.

Improvisação

Para mais clarificações sobre este passo, sugerimos a seguinte atividade:

Dependendo do número de participantes, mas independentemente do número de personagens, todos os participantes participam nos ensaios e no desenvolvimento das personagens.

  • Criar e testar as personagens através da improvisação
  • Combinar recursos digitais e teatrais no processo de criação das personagens

Entre 60 e 90 minutos

  • Computador, idealmente (ou telemóvel ou tablet);
  • Ligação à Internet;
  • Plataforma digital para videochamadas: Meet, Zoom, WhatsApp, etc.

É necessário dispor de um espaço confortável e organizado, uma vez que esta atividade envolve mover o corpo.

Adicionalmente, recomenda-se treinar anteriormente para facilitar o processo de improvisação (uma folha de atividades detalhadas a realizar na formação está incluída no passo seguinte).

A atividade de improvisação será dividida em quatro etapas, que podem ser realizadas sequencial ou separadamente, consoante as necessidades, objetivos e antecedentes dos e das participantes.

Dica: Se trabalhar com não profissionais do teatro, poderá querer sublinhar que a improvisação é uma ferramenta importante para se familiarizar com e estruturar as personagens, bem como para permitir que os e as participantes se envolvam mais com os papéis e a peça.

  • Incorporar a personagem: Inicialmente, a cada ator e atriz é dado espaço para explorar, conectar-se e ganhar consciência do seu corpo. Depois, por meio de indicações dadas pela direção, os atores e as atrizes receberão orientações na forma de perguntas para começarem a analisar como irão incorporar a personagem, a corporalidade e a cinética da personagem.

Estas podem ser algumas das perguntas orientadoras:

Como respira a sua personagem? Como se senta a sua personagem? Qual é a aparência da sua personagem? Como é a voz da personagem? Como é que a personagem escreve? Como é que a personagem come? Etc.

Exemplo:  Após a exploração individual, a direção propõe uma situação concreta a ser improvisada a pares.

As personagens são dois/duas vizinhos/as que discutem ao telemóvel porque um deles faz demasiado barulho à noite.

A dupla terá de improvisar uma chamada telefónica.  Alguns aspetos orientadores:

  • A primeira chamada será feita com uma linguagem inventada;
  • A segunda chamada será feita sem palavras;
  • Na terceira chamada, deverá ser adicionada uma ação física que a personagem poderia adotar ao falar ao telemóvel (comer, vestir-se, arrumar, etc.).

O/a facilitador/a (ou o/a diretor/a ou outra pessoa) pode facultar mais indicações; este exercício convida os e as participantes a explorarem o seu nível de voz e movimento, a opinião de cada personagem sobre o conflito, bem como a relação entre as várias personagens.

Biografia das personagens:

O/a facilitador/a (ou o/a diretor/a ou outra pessoa) irá realizar uma entrevista com cada personagem, onde fará perguntas-chave que ajudarão a definir a biografia das personagens ou a informação necessária para alimentar a encenação. Alguma da informação básica que pode ser recolhida é:

Nome completo, idade, estado civil, origem, profissão, circunstâncias anteriores à ação teatral, qual é o objetivo da personagem na peça, qual é a relação dessa personagem com as restantes, etc.

Exemplo: O facilitador ou a facilitadora dará uma situação concreta para ser improvisada: uma entrevista de emprego através da plataforma Zoom, onde as personagens terão de se apresentar.  A um/a dos/as atores/as será pedido que represente o papel de entrevistador/a e chefe, enquanto as restantes personagens representarão os/as candidatos/as. A personagem do ou da chefe terá a liberdade de fazer todas as perguntas necessárias para conhecer os candidatos e as candidatas o máximo possível. 

Personagens e redes sociais: O objetivo é descobrir como é que as personagens irão atuar nas redes sociais. O facilitador ou a facilitadora irá pedir a informação seguinte a cada personagem:

Quais são as redes sociais que mais utiliza? Como é que a sua personagem escreve no WhatsApp? Que stickers e/ou emojis utiliza a personagem? A personagem envia áudios e/ou fotografias? A personagem envia memes? Etc.

Exemplo:  O facilitador ou a facilitadora improvisa uma cena num grupo do WhatsApp, que será criado no momento, onde propõe criar um grupo do WhatsApp para a família. Uma pessoa da família irá enviar um meme homofóbico. Cada personagem terá de tomar um partido e reagir. Durante a criação do grupo, cada ator ou atriz terá alguns minutos para escolher uma fotografia de perfil e um estado do WhatsApp para a respetiva personagem.

Quando tudo estiver pronto, a improvisação será iniciada.

Quando a improvisação terminar, toda a informação recolhida a partir do exercício deverá ser revista para identificar os elementos que podem ser utilizados na encenação.

É recomendado regular o timing de cada etapa.

Considere manter um registo da atividade como material de arquivo ou para realizar pesquisas futuras sobre a criação de personagens.  Uma boa forma de o fazer designar uma pessoa para fazer uma ata e manter um registo de todas as ideias e intervenções durante a improvisação. Recomenda-se a utilização de um software que permita trabalhar coletivamente sobre o mesmo documento.

Boal, A. Games for Actors and Non-Actors

Tal como trabalho presencial, o contexto digital também exige incluir a formação de atores e atrizes durante os ensaios, uma vez que permite que os e as participantes (profissionais ou não profissionais) se preparem melhor para a performance. Neste caso, o foco deve estar no contexto digital, conforme descrito abaixo.